sábado, 22 de maio de 2010

Cativa-me !


- Que quer dizer "cativar" ? Perguntou o principezinho.
- É uma coisa muito esquecida. Significa "crial laços...", respondeu a raposa.
- Criar laços ?
- Exatamente. Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
- Começo a compreender, disse o pincipezinho. Existe uma flor... eu creio que ela me cativou...
- É possível, disse a raposa. Vê-se tanta coisa na Terra...
(...) Mas a raposa voltou à sua idéia.
- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de Sol. Ceonhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha ! Vês, lá longe, os campos de trigo ? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste ! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo... (...) A gente só conhece bem as coisas que cativou. Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me ! (...)
- Que é preciso fazer ? perguntou o principezinho.
- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto... (...) Voltarás sempre à mesma hora. Se tu vens, por exemplo, ás quatro, desde as três eu começarei a ser feliz. ÁS quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade ! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... É preciso ritos. (...)
- Mas tu vais chorar quando eu partir ! disse o principezinho.
- Vou, disse a raposa. Mas eu lucro por causa da cor do trigo. (...) Eis meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.

By. Antoine De Saint-Exupery (O Pequeno Príncipe)



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